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Rara interação entre botos e pescadores é documentada de forma inédita pela ciência
Publicado em 07/02/2023 às 09:23Uma dança sincronizada. Uma colaboração cheia de instantes decisivos. Uma interação que resulta em benefícios para o boto e para o pescador. Tradicional e reconhecida no Sul do Brasil e no mundo, a parceria entre botos pescadores e homens na pesca da tainha foi documentada de forma inédita pela ciência, em uma trabalho que envolveu a Universidade Federal de Santa Catarina, a Oregon State University (OSU), nos Estados Unidos, e o Max Planck Institute, na Alemanha (MPI). A sincronia perfeita necessária entre o sinal emitido pelo animal e a soltura da rede e os riscos que uma possível escassez de tainha podem trazer à prática estão entre os principais resultados do estudo.
Munidos de drones, imagens subaquáticas e tecnologia de captação de sons marinhos, a equipe, na UFSC liderada pelo professor Fábio Daura-Jorge, do Departamento de Ecologia e Zoologia, registrou detalhes em frações de segundos do comportamento dos botos e dos pescadores, além de ter se alimentado de um banco de dados de mais de 15 anos de monitoramento da cooperação – uma das poucas registradas na biologia.
“Sabíamos que os pescadores estavam observando o comportamento dos botos para determinar quando lançar suas redes, mas não sabíamos se os botos estavam coordenando ativamente seu comportamento com os pescadores”, disse Maurício Cantor, professor da OSU, colaborador da UFSC e líder do estudo.
“Usando drones e imagens subaquáticas, pudemos observar os comportamentos de pescadores e botos com detalhes sem precedentes e descobrimos que eles capturam mais peixes trabalhando em sincronia”, disse Cantor. “Isso reforça que esta é uma interação mutuamente benéfica entre os humanos e os botos.”
Essa sincronia é determinante para o sucesso do pescador e para a manutenção da pesca tradicional, explica Daura-Jorge, que coordena, na UFSC, um Programa Ecológico de Longa Duração do Sistema Estuarino de Laguna e adjacências, financiado pelo CNPq. “Temos um longo histórico de estudos da UFSC sobre essa interação, que é muito valorizada localmente”, comenta o professor. “Desde a década de 1980, importantes descrições de como funciona essa interação vêm sendo feitas, mas desta vez, com ajuda de tecnologia apropriada, pudemos testar algumas hipóteses e confirmar que se trata de uma interação com benefícios mútuos”, explica.
Os avanços tecnológicos foram fundamentais para os resultados assertivos desse novo estudo. Uma metodologia multiplataforma identificou um “sincronismo fino entre as duas partes”, com benefícios para ambas. A pesquisa, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, uma das principais da área, rastreou simultaneamente tainhas, botos, e pescadores acima e abaixo da água para desenvolver uma compreensão em escala fina de suas interações.
O estudo também teve como objetivo quantificar as consequências dessa cooperação, além de combinar os dados em um modelo numérico para prever o destino e propor ações iniciais para conservar essa interação rara. “A tainha é o principal recurso dessa interação, por isso nós utilizamos os dados da pesca local, que sugerem uma provável redução nos estoques de tainhas, para prever o que pode acontecer no futuro caso persista esse processo de redução da sua abundância”, explica Daura-Jorge.
Eles também descobriram que a sincronia de forrageamento – a busca pelo alimento – entre botos e pescadores aumenta substancialmente a probabilidade de pescar e o número de peixes capturados. Outro dado importante identificado pelo estudo é que a interação é benéfica à sobrevivência dos animais, já que aqueles que praticam a pesca cooperativa têm um aumento de 13% nas taxas de sobrevivência. De acordo com Daura-Jorge, isso também ocorre porque, enquanto estão entretidos cooperando e interagindo com os pescadores, os botos ficam longe de outros perigos quem podem leva-los à morte, como pescarias ilegais que ocorrem na área.
A pesquisa também apontou que a compreensão dos pescadores sobre a tradição da pesca correspondia às evidências produzidas por meio de ferramentas e métodos científicos. “Questionários e observações diretas são maneiras diferentes de olhar para o mesmo fenômeno e combinam bem”, disse Cantor. “Ao integrá-los, pudemos obter a imagem mais completa e confiável de como esse sistema funciona e, mais importante, como ele beneficia tanto os pescadores quanto os botos”.
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Pesquisadores da UFSC reforçam cuidados em casos de acidentes com caravelas e medusas, as chamadas águas-vivas
Publicado em 08/12/2022 às 12:29Pesquisadores do Laboratório de Biodiversidade Marinha da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realizam nesta época do ano a atividade de monitoramento de caravelas e medusas, popularmente denominados de águas-vivas, responsáveis por causar milhares de acidentes nas praias catarinenses. Na manhã desta quinta-feira, 8 de dezembro, uma equipe registrou a presença de 167 desses animais em apenas um quilômetro na praia do Campeche, no Sul da Ilha. Outro grupo desenvolve a mesma ação na Barra da Lagoa.
De acordo com coordenador do projeto, o professor Alberto Lindner, do Departamento de Ecologia e Zoologia do Centro de Ciências Biológicas (CCB), o aparecimento das caravelas acentua-se devido ao fenômeno da lestada – ventos que transportam esses animais de alto-mar para as áreas do litoral. Segundo o docente, este tipo de ocorrência pode acontecer na capital catarinense no intervalo entre a primavera até o fim do verão.
O projeto da UFSC tem como principais objetivos identificar as espécies predominantes em praias de Florianópolis, obter dados mais precisos sobre a sazonalidade e abundância desses animais, bem como acerca dos eventuais “blooms” (surtos de crescimento rápido e sem controle no meio aquático). Atualmente, o trabalho de monitoramento é realizado pelas estudantes Camila Sotili, Samanta Gonçalves e a Caroline Iaczinski Bento, do curso de Biologia. A ação iniciou em dezembro de 2019, com a aluna Roberta Elis Francisco, que se formou bióloga pela UFSC este ano.
Cuidados e primeiros socorros
O Laboratório de Biodiversidade Marinha contribuiu para a elaboração de um informe sobre caravelas e sua ocorrência nas regiões Sul e Sudeste do país, divulgado no início deste ano. O documento descreve esses animais e traz orientações acerca de como proceder em caso de acidentes. As caravelas não causam “queimaduras”, mas sim um envenenamento, geralmente mais grave do que aquele causado pela maioria das espécies de águas-vivas. Seus tentáculos possuem pequenas cápsulas que injetam veneno através de micro arpões, chamados nematocistos, quando acidentalmente tocam a pele humana.
Como agir em casos de acidentes?
• Saia da água imediatamente, porque o envenenamento pode causar câimbras e há risco de afogamento;
• Lave com água do mar para retirar restos de tentáculos aderidos;
• Lave com vinagre por alguns minutos para desativar o veneno e prevenir novas inoculações na pele;
• Amenize a dor com água do mar gelada ou gelo artificial envolto por panos. Essas compressas frias têm efeito analgésico para vários tipos de envenenamentos com caravelas ou águas-vivas.O que não fazer?
• Nunca urine, nem use substâncias como álcool ou refrigerante sobre a lesão, pois não há comprovação de eficácia dessas substâncias em amenizar os efeitos da lesão;
• Nunca lave com água doce, uma vez que a medida pode aumentar o envenenamento e agravar a lesão;
• Evite usar toalhas, areia ou outro material abrasivo para retirar restos de tentáculos, pois isto também pode aumentar a injeção de toxinas por explodir as cápsulas com veneno.
Acesse as Recomendações da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa).Para mais imagens, informações e curiosidades sobre o tema, confira o perfil Vida Marinha de Santa Catarina, mantido pelo Laboratório de Biodiversidade Marinha da UFSC.
Por: Notícias da UFSC
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Santa Catarina abriga espécie de árvore considerada “super rara” ainda pouco conhecida pela ciência
Publicado em 22/11/2022 às 14:38Ecólogos da UFSC dizem que o Crinodendron brasiliense é uma espécie em perigo de extinção
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Crinodendron brasiliense ou cinzeiro-pataguá é uma árvore considerada “super rara”, encontrada durante um estudo de campo numa pequena área localizada nas regiões montanhosas do Planalto Serrano Catarinense. “Estávamos fazendo a medição de árvores de um projeto de monitoramento no Parque Nacional de São Joaquim, onde acabamos encontrando 59 indivíduos da espécie, o que despertou a nossa atenção para investigá-la”, diz o ecólogo Eduardo Luís Hettwer Giehl.
Com esse objetivo em mente, Eduardo Giehl e Rafael Barbizan – pesquisadores no Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis, lideram um estudo inédito, cuja proposta de pesquisa envolve o monitoramento do cinzeiro-pataguá com o objetivo de realizar um levantamento mais abrangente dessa espécie de árvore ameaçada de extinção e restrita à região.
A extinção de populações e espécies é algo que afeta o ecossistema e a biodiversidade. Para o professor Eduardo e a equipe de pesquisadores, a dor da perda de uma única espécie é imensa, maior ainda quando pouco se sabe sobre ela. “Para nós é um abalo muito grande perder uma espécie, queremos preservar todas e o cinzeiro-pataguá está numa situação bem delicada”, explica o ecólogo.
Todo cientista é movido a entender “porquês”. Isso mobiliza o grupo de pesquisadores da UFSC a investigar por que a espécie Crinodendron brasiliense é tão rara. Além disso, por que não existe em outros locais além das regiões montanhosas do Parque Nacional de São Joaquim? Isso é o que o grupo de ecólogos da UFSC busca entender: “Pode ser um problema na germinação dela, ou depois que ela germina, um animal vem e come. Pode ser que a sobrevivência dessas mudas dependa de uma quantidade de luz específica, até mesmo mais ou menos umidade”, argumenta Rafael, ecólogo integrante do grupo de estudos. Há necessidade de realizar uma investigação aprofundada, o que significa investidas a campo, ou seja, no habitat natural desta espécie.
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UFSC promove Semana da Ciência sobre biodiversidade em escolas e unidades de conservação
Publicado em 11/10/2022 às 11:30O que um leão baio, felino de grande porte, e o javali, uma espécie invasora, têm em comum? Para a ciência, o meio em que vivem: a região catarinense onde o Programa Ecológico de Longa Duração (Peld-Bisc) promove, de 18 a 22 de outubro, a II Semana da Ciência: Biodiversidade de Santa Catarina. O evento ocorrerá em Orleans, Grão-Pará, Bom Jardim da Serra e Urubici, com a parceria do Parque Estadual da Serra Furada e do Parque Nacional de São Joaquim.
Esta é a segunda edição do evento, que aposta na parceria com a comunidade para falar sobre ciência apresentando dados, informações e curiosidades sobre a biodiversidade. Estão programadas palestras, saídas de campo com professores e feiras de ciências com exposições de laboratórios da UFSC.
As ações ocorrem na região de abrangência do Peld: uma área de mais de 50 mil hectares que tem duas unidades de conservação de proteção integral de Santa Catarina, o Parque Nacional de São Joaquim e o Parque Estadual da Serra Furada. Ambas representam uma variação no gradiente ambiental e ecológico principalmente por causa da diferença na altitude em relação ao nível do mar, ao histórico de uso da terra e a diversidade de ecossistemas da região.
O coordenador do Peld, professor Selvino Neckel de Oliveira, lembra que o evento busca aproximar a ciência e a comunidade trazendo dados sobre a biodiversidade e mostrando que as unidades de conservação não são apenas local de proteção de espécies, mas também fonte de ecoturismo. “Vamos levar exemplares da fauna e da flora e também falar sobre nossas descobertas, contextualizando a biodiversidade da região”, explica.
O leão baio, por exemplo, é um felino de grande porte que já foi fotografado e registrado pela equipe nos trabalhos científicos na região. “É um felino topo de cadeia, um predador. Isso mostra que os elos que estão abaixo dele, que sustentam outros elos, também estão presentes”, explica o professor, reforçando que este é um indicador positivo.
Além das espécies nativas, os cientistas também falarão sobre espécies invasoras: é o caso do javali, que afeta também propriedades rurais da região. “Há uma população muito grande desses animais na região, que não afetam somente as unidades de conservação, mas também os produtores rurais”, comenta.
Programação itinerante
Cerca de 40 pessoas – entre professores, estudantes e pesquisadores da UFSC participação da programação itinerante, que será realizada em Orleans, Grão-Pará, Bom Jardim da Serra e Urubici. Nos dias 18 e 19 de outubro, haverá uma feira de ciências na Escola Estadual Toneza Cascaes, das 9h às 20h. Já de 20 a 22 de outubro, o evento irá para o Parque de Exposições Manuel Prá, em Urubici, das 9h às 18h.
Além da feira de ciências, a programação terá palestras sobre unidades de conservação e pesquisa científica: três em Grão Pará, na Escola Estadual Miguel de Patta, no dia 19; uma na Câmara dos Vereadores de Bom Jardim da Serra, que ocorre às 19h nesta mesma data, e três em Urubici, no dia 21.
Outro foco do evento são as atividades de campo para professores dos Ensinos Fundamental e Médio, guiada por pesquisadores da UFSC. “A proposta é dialogar e contribuir com materiais didáticos que possam ser utilizados nas aulas”, explica Neckle.
O Peld-Bisc é liderado por pesquisadores da UFSC e faz parte de uma rede nacional de pesquisas ecológicas de longa duração que é apoiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc). A função do Peld é de tentar compreender os efeitos causados pelo distúrbio da biodiversidade e assim controlar a utilização dos recursos naturais do estado, além de conservar o meio ambiente em Santa Catarina.
Por: Notícias da UFSC
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Projeto AtlantECO organiza pesquisa global em 21 de setembro e promove a Cultura Oceânica
Publicado em 21/09/2022 às 08:35O projeto internacional de pesquisa e extensão AtlantECO, vinculado ao Departamento de Ecologia e Zoologia da UFSC organiza, na quarta-feira, 21 de setembro, uma atividade do Ocean Sampling Day (OSD), campanha científica global com o objetivo de analisar a biodiversidade e a função microbiana marinha. Nesse dia, a equipe do Projeto AtlantECO, bem como outros pesquisadores da UFSC vinculados à Chamada Blue Growth, realizam amostragens na Reserva Biológica Marinha do Arvoredo, em Santa Catarina.
O OSD visa gerar o maior conjunto de dados microbianos padronizados em um único dia em diversas regiões do mundo. Durante todo o dia, pesquisadores estarão recolhendo amostras de águas da zona costeira e esta será a primeira vez em que a atividade ocorre na região do Atlântico Sul. A iniciativa já existe, desde 2014, em todos os oceanos, com exceção da costa brasileira e africana.
O AtlantECO organiza a atividade em 2022 e nos próximos dois anos, em parceria com o European Marine Biological Resource Center (EMBRC). O AtlantECO é um projeto desenvolvido em parceria com 36 instituições de 11 países da Europa, Brasil e África do Sul, que tem por finalidade a pesquisa sobre o microbioma do Atlântico, os impactos das mudanças climáticas e da poluição no oceano.